Análise do álbum “Pra Deus é nada”, de Vanilda Bordieri.

Entre os sorrisos e gargalhadas de uma mulher chamada Vanilda Bordieri existe uma voz, um talento, um dom. E principalmente um chamado provido de Deus. Quem ouve falar de Vanilda Bordieri hoje talvez não se der conta que ela é um exemplo de superação e de alguém que confiou profundamente em promessas feitas por Deus.

Natural da cidade de Avaré no estado de São Paulo, Vanilda Bordieri no ano de 1997 estava em uma das calçadas de Sorocaba, quando brotou voluntariamente sua primeira composição chamada ”Sem Palavras”, que segundo ela foi um desabafo por estar passando por momentos difíceis de sua vida. Justamente neste mesmo ano, com muita luta e esforço Vanilda Bordieri que era camelô entra em estúdio pela primeira vez e grava seu primeiro disco de maneira independente sob a produção musical de Paulo Davi  marcando então sua  estreia como cantora na música evangélica. E de lá pra cá são 16 discos solos, 4 em dupla com sua irmã Célia Sakamoto e 1 DVD ao vivo, totalizando só em carreira solo mais de 2,5 milhões de cópias vendidas. 

Atualmente, Vanilda Bordieri  acaba de lançar seu 16º CD intitulado " Pra Deus é nada",  dirigido executivamente pela gravadora Aliança e produzido por Ronny Barbosa. O repertório é formado por 15 canções, sendo 9 faixas da autoria de Vanilda onde podemos encontrar o clássico "Sem Palavras" regravado com uma nova roupagem. No repertório não são dispensado os compositores Rogério Júnior, André Buenno, Gislaine e Mylena, Tony Ricardo, Anderson Freire e Eduardo Schenatto, os quais já possuem ampla notoriedade na musica gospel. 

Diante de tanto esplendor, ainda somos surpreendidos com a participação especial de sua filha Eloísa Bordieri e da cantora Elaine de Jesus, que quando anunciada, causou grande surpresa para o público.  Enfim, é sobre essa obra de arte que iremos falar agora, uma obra de arte que traz como proposta "Intimidade com Deus".

O Projeto Gráfico: A capa, o encarte e a comunicação visual de qualquer disco são sempre alguns dos detalhes mais ansiados pelo público, ou melhor, pela massa de críticos , consumistas e até mesmo  admiradores natos de um design de qualidade. Vanilda Bordieri é sem demagogia uma das mais assíduas contribuidoras desse fator, suas capas e projetos gráficos são sempre deslumbrantes, arrojados e inovadores. Uma das provas disso é a capa do seu novo disco com as fotos e arte realizada por seu fiel fotógrafo Osmar Goulart (Mazinho) , que embora tenha sido 40% criticada, em minha opinião permanece firme e autêntica em sua proposta. E essa é a questão! A " Proposta'. 

Vanilda não errou na capa, nem no projeto gráfico, porém errou em não apresentar antecipadamente a proposta do projeto que sob os meus olhos é : Ressaltar o vintage, aderindo um figurino semelhante, uma locação rústica e a mensagem de que épocas e estações pra Deus é nada ! Acredito que se a proposta fosse divulgada antes evitaria as críticas negativas sobre a capa e talvez não fosse marcada por tantas críticas. Enfim, o projeto gráfico está impecável, as fotos foram realizadas na Estação Ferroviária de Sorocaba e o encarte do disco é constituído por 4 lâminas. 

  

Analisando Repertório/Musicas:

Faixa 1 (Peregrino) – Esta primeira faixa traz algumas considerações sobre o álbum que ficarão em evidência. A composição é de Rogério Junior, que já tem outras canções gravadas com outros cantores, como Cassiane, Lauriete e a própria Vanilda Bordieri. A canção refere-se sobre a perseverança do servo de Deus na Terra. Traz uma mensagem muito linda de esperança aos nossos corações, e sem dúvida alguma, fortifica nossa fé no Senhor Jesus Cristo. A música traz recortes de idéias, como uma trouxa de retalhos que foi emendada. Não que isso seja ruim. É bom. Mas, este aspecto refletiu numa dificuldade em se ter fluência na prosódia do texto. Temos uma introdução em acordes suspensos, ou seja, você não tem um “ataque” inicial com uma ideia pré-concebida da música. E isso é ótimo em uma música: inovação. Temos uma fluência na primeira parte; na segunda parte, encontramos uma idéia de “como será a música”, com ataque dos instrumentos de base e back vocal. E quando saímos da segunda parte, esperamos um refrão que dê continuidade e não encontramos! Vem outra idéia diferente. Lindíssimo refrão, com uma letra inspirada e ungida. E em seguida, temos a parte C da música que é uma variação do refrão, ou seja, remete a idéia musical anterior. A faixa, em aspectos mais musicais, é “básica”. Nada de muito novo, nada muito além do esperado. Apenas a “estranha” estruturação dos temas que no fim, gerou esta bela faixa.

Faixa 2 (Glorificado é Deus) – A faixa começa com uma introdução com teclado, violinos e cellos em uma melodia em tom menor, indicando uma idéia musical, quando somos surpreendidos por semicolcheias descendentes e rápidas, para abrir espaço para a voz de Vanilda e o back vocal, que fazem um giro total na idéia inicial. Na estrofe, a guitarra traz todo charme pra o trecho, e nos dá a sensação de uma canção realmente congregacional e de fácil assimilação. A bateria merece um imenso destaque nesta faixa, pois a canção, por ter seu texto enfaticamente repetido, faz com que a cada retorno ao tema, ganhe novo vigor, juntamente com os metais. O segredo de canções como essa está em ter domínio e criatividade na variação. Com a modulação e violinos, a música ascende e cresce em musicalidade, e é claro, na voz de Vanilda, tudo parece estritamente novo, mesmo que a canção já tenha sido gravada anteriormente por Alexandre Bernardino. A composição é deVanilda Bordieri.

Faixa 3 (Pra Deus é nada) – A música pode ser traduzida em duas palavras: simples e refinada. O segredo dela, não está em idéias musicais, nem em arranjos super rebuscados, mas sim na simplicidade da canção. O segredo e êxito de um material sonoro, seja qual ele for, é o êxito em que esse material tem de comunicar. A canção traz mensagem de fé, esperança e conforto para aqueles que têm frustrações e problemas na vida. E sabemos que para todos, são muitos. Mas, a mensagem que é para irmos adorando, porque esse problema pra nosso Deus é nada. A modulação, e suspensão das cordas em um breve silêncio, convida a todos que já aprenderam a canção para adorar. É esse tipo de música que sentimos falta hoje em dia. Que seja simples, mas que toque os mais frios e duros dos corações. Somente Deus poderia ter dado tal inspiração a Vanilda para compor e gravar tal canção.

Faixa 4 (Enche-nos) –  É uma canção pentecostal, e de grande porte. A muito tempo não ouvia uma música pentecostal, que tenha fluência e coerência. Podemos já perceber a marca da cantora Elaine de Jesus, que faz uma participação na faixa com Vanilda. A letra retrata Atos 2, sobre o vento do Espírito de Deus, que encheu a todos com poder e glória. A música é de uma combinação das duas, que tem uma voz média, grave, e revezam na segunda voz, no refrão. A letra nessa canção faz toda diferença, porque temos muito texto para ser desenvolvido em pequenas idéias musicais, e já dá percebermos que é onde se encontra o êxito da canção. É, sem dúvida, uma das faixas de destaque do álbum. Uma canção muito forte, cheia de unção e poder, e necessidade de muita autoridade. A modulação, tem sempre a função de ascender a canção, torná-la mais viva e movida. Nessa faixa, trouxe mais vida, cor e levou a música ao ápice. Enche-nos é da autoria de Eduardo Schenatto.

Faixa 5 (O Semeador) – É uma das canções mais inspiradas do álbum. O Semeador da autoria de Tonny Ricardo traz uma temática um pouco abandonada nos últimos dias, que é realmente o porquê de estarmos ainda neste mundo: pregar o evangelho aos sedentos e anunciar sua vinda. Começa com um ostinato rítmico e instrumentos de base. Musicalmente, não traz muitas novidades, mas seu texto e melodia, tem alguns elementos interessantes. O back vocal bem básico, apenas em respostas ao solista, porém, não ausente.  O refrão, é onde podemos encontrar o ápice da canção, é muito agradável e gostosa de se ouvir e cantar. Da pra perceber nesta canção o que dissemos anteriormente, quando há uma boa articulação entre texto e música. A música tem uma ótima fluência, do início ao fim, e com uma letra bem criativa e conteúdo.

Faixa 6 ( No meu quarto) – Esta faixa tem um diferencial no aspecto técnico. A música começa com pequenos trechos do texto que não cabe dentro da prosódia proposta para a música, então, se altera a música para 2/4 e em seguida 4/4 para que o texto não se sobreponha à ideia musical. É uma estratégia composicional que é interessante ser utilizada, quando se sabe usá-la. O refrão trata da relação pessoal que o livro de Matheus fala que devemos buscar na oração a Deus. Jesus aconselha a entrarmos no nosso quarto e ali nos derramarmos diante D'Aquele que pode nos ouvir e nos consolar. É uma música bonita, mas em relação as anteriores, é de menor riqueza musical, textual e artístico.

Faixa 7 (Mesmo sabendo) – É uma das canções mais criativas do álbum. É uma música que começa num ambiente mais nostálgico, para encaixar um texto de reflexão sobre a tribulação da vida do cristão. O refrão traz uma batida e ritmo mais sertanejo. O back vocal tem trechos em uníssono com solista para enfatizar o texto. A faixa é uma daquelas que preenchem repertório, mas, sem cair a qualidade do álbum. A composição é André Buenno.

Faixa 8 (Sem Palavras) – Essa já é conhecida por nós, certo? Rs. É a regravação do primeiro sucesso de Vanilda. Com uma roupagem nova, novos arranjos, a mesma essência de espiritualidade e unção. A introdução começa com cordas, piano e back vocal mais preenchido do que nas outras versões conhecidas. Houve pequenas alterações na harmonia,  não que sejam feias, mas diferentes. Quem conhece a 1ª versão ou ao vivo, no DVD Fidelidade, vai estranhar um pouco esta. Porém, qualquer alteração estrutural jamais poderia alterar a profunda e inspirada mensagem que essa canção nos traz. Essa versão é um pouco mais rebuscada e orquestrada, o que nos dá a sensação de mais “cheia”. Linda, independente de tudo.

Faixa 9 (Te amarei) – É um tipo de canção de adoração a Deus e ainda pentecostal. Uma das melhores do álbum. Começa com um detalhe pequeno que faz toda diferença, a Introdução. Remete a sons ambientes. Mostra movimento do início ao refrão principal, com belo arranjo nas cordas, ritmo mais constante. É uma música relativamente curta, mas de impacto, com um texto fluente. Essa canção é rica musicalmente, porque possui alguns detalhes de sons computadorizados e instrumentação mesmo, articulados entre os arranjos e base. A autoria é de Gislaine e Mylena.

Faixa 10 (Na Tua presença) – A faixa começa com a melodia que será construída no decorrer da música. O back vocal repete com veemência, e a solista entra cantando sobre o desejo profundo que tem de estar onde esteja a presença de Deus. A singela melodia da primeira parte ganha força em acompanhamento no piano em uma oitava mais aguda. O refrão ganha força com o back vocal e solista. É um refrão bem composto, onde a força está na frase “Na Tua presença”. A segunda parte, tem uma variação de solo, piano e bateria. E em seguida temos um Intermezzo, que faz ponte com a parte C da música, que é de adoração e súplica para que adore e ore a Deus, voltando em apoteose ao refrão. É uma  maravilhosa música, que se encerra com a idéia de que a presença de Deus é o que alegra nosso viver. Acredita-se que é uma das melhores interpretações do disco, pois mescla sutilmente emoção e sentimento. A autoria é Vanilda Bordieri.

Faixa 11 (A vinha) – A canção é histórica. Remete-nos a história bíblica de Nabote, que possuía uma vinha. E Vanilda extrai dessa mensagem que, jamais devemos vender, trocar ou dar nossa vinha, porque, simbolicamente, é nossa herança, benção ou ministério, dado por Deus como graça. A letra é inspirada e rebuscada. O arranjo é tipicamente excêntrico para se adaptar às letras que Vanilda compõe. É uma bela canção, mas seria um dos grandes destaques do álbum. Musicalmente, não traz muitas novidades, além do esperado. A música é composta em função do significado do texto. 

Faixa 12 (Espírito Santo) – Essa música me fez lembrar de “Carregado pelo Espírito”, do álbum Assim Sou Eu, porque traz uma mensagem semelhante, porém, musicalmente oposta à outra. É uma canção profética e uma oração para que Deus interceda por todas as vidas que estão diante do altar e que o Espírito Santo os conduza à adoração. O detalhe da música está no violino que está presente o tempo todo no fundo, que dá o caráter mais intimista à canção. 

A composição é de Vanilda Bordieri.

Faixa 13 (Um sinal) – A canção tem uma introdução com violão, com percussão e acordeão, que remete a um elemento musical muito encontrado na música francesa do século XX, até o refrão, que já traz uma tendência mais comum e conhecida. O texto pede para que Deus nos dê um sinal de que está conosco, que está presença e que é o Deus que fala aos corações. É, pra mim, a canção mais simples do álbum, e das nove composições de Vanilda Bordieri.

Faixa 14 (Segredos da alma)- O texto dessa música é uma das mais belas orações já escritas e mais verdadeiras. A música é acompanhada por piano, sons computadorizados e violão, justamente para criar essa canção mais pessoal e intimista. A canção é uma confissão de angústias da alma do homem, e que em forma de oração são ditos a Deus. É uma bela canção. Composição de Vanilda Bordieri.

Faixa 15 (Tempo de obediência)- E pra fechar o álbum, esta canção com um ar de animada, com sons manipulados, e teclado. A música é executada pela filha de Vanilda, Eloísa Bordieri, com uma voz mais grave e muito bonita. É um típico hino jovem, em forma de louvor e adoração, que fala sobre o desejo profundo que sentimos de obedecer e seguir a voz de Deus. O back vocal é um destaque importante, mais estilizado e menos denso, pra entrar em contexto com a canção que é mais simples estruturalmente. Os efeitos acrescentados nesta canção provém mais do teclado do que sons manipulados, que é a realidade que encontramos nas igrejas do hoje. O autor da composição é o renomado compositor, Anderson Freire. 

Então, esta é a análise do álbum "Pra Deus é nada" , da cantora Vanilda Bordieri, seu mais novo trabalho. Como podem ver, em geral, o álbum está acima de outros trabalhos lançados. Tudo porque Vanilda tem em seus trabalhos, não só a excelência de mensagens inspiradas, mas também uma produção de ótima qualidade e uma voz que é abençoada por Deus. Belos arranjos, novos recursos composicionais, inspiração divina e inovação. Esse é o trabalho de Vanilda Bordieri.

Comentaristas (Convidados):

"É uma honra pra mim fazer parte desse projeto especial, somando com a canção "O Semeador". Vanilda Bordieri é Referencia de alegria e unção, é muito querida e uma das compositoras e cantoras mais influentes dos últimos anos na música pentecostal. Pra DEUS é nada é um CD Lindo com canções especiais, vai edificar os corações e renovar vidas, prepararem-se pra orar, cantar, sorrir, chorar e celebrar com o belíssimo CD - Pra DEUS é nada!!" - Tony Ricardo.

"Vanilda Bordieri tem uma característica própria em escolher seu repertório para seus CDs principalmente pelo fato de compor maior parte das canções. E isso não significa que os CDs ficam sempre iguais. O CD Pra Deus é Nada é mais um trabalho diferenciado da Vanilda não apenas pela mudança de produtor e nova sonoridade mas, pelas composições que também  ganhou uma nova roupagem. Podemos ouvir canções pentecostais fortes, outras estilo sertanejo ou aquele pentecostal mais tradicional, pop, celebração e adoração. Enfim, é um CD completo. Um presente para os admiradores da cantora e para o público externo pela diversidade musical que compõe o CD." Guilherme Abner.

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Vitrine Gospel

Por: Max Michel , Júnior Costa.